Quando morre uma pessoa famosa, vejo geralmente duas reações nas redes sociais: as pessoas que lamentam a perda e as pessoas que criticam aquelas que lamentam a perda. A crítica tem como base o fato de que tais pessoas nunca conheceram o artista “de verdade”, pois não faziam parte de seu círculo de amizade nem eram da sua família – logo, não teriam motivos para lamentar.
Fiquei pensando nisso um dia desses: será a gente não conhece os artistas de que gostamos?
Acho que conhecemos, sim, ao menos uma parte importante deles.
Quando lemos um livro, por exemplo, passamos algumas horas, dias e até semanas na companhia do escritor. Claro, é uma companhia muito singular. Mas é sempre o autor, aquele ser humano particular, nos contando uma história ou nos explicando as suas ideias sobre alguma coisa. O momento da leitura, desta forma, é extremamente íntimo, com a nossa mente conectada de uma maneira intensa à mente de quem escreveu aquelas palavras. Assim, por exemplo, quando o Terry Pratchett morreu, parecia que eu perdia um grande amigo. Sei que ainda posso ter os meus momentos com a mente absurdamente brilhante dele. Mas mesmo assim, mesmo assim, senti uma grande tristeza…
Algo muito parecido acontece com a música. Aquelas canções que marcaram a nossa vida, aquelas que nos fazem sair dançando ou cantando ou que enchem nossos corações de alegria e nossos olhos de lágrimas, tocam partes em nós às quais quase ninguém tem acesso, nem, muitas vezes, aqueles que vivem bem do nosso lado. Então nada mais normal e humano, acho, do que sofrer com a partida daqueles que as criaram, tocaram e cantaram.
Ou seja, acredito que a relação que existe entre artistas e seus fãs é real, e bastante intensa, embora seja peculiar.
Por fim, meu marido sempre afirma que negar a experiência de uma pessoa é algo bastante terrível, e concordo com ele. Assim, se alguém diz estar triste pela morte de um artista (ou por qualquer outra coisa, na real), o ideal é respeitar. Afinal, nunca sabemos o que se passa realmente dentro do coração dos outros.